
Feirantes passam dificuldades 1 mês após incêndio na Via Ápia
Incêndio provocou perda de mais de 30 mil reais para comerciantes
“Uma cena de terror que não saiu da minha cabeça. Ainda não consegui voltar a trabalhar por conta do incêndio”, revela Samia Soares Karam, de 37 anos. Toda quarta e quinta-feira, ela saía da Pavuna, na Zona Norte, com um carrinho de supermercado até a Rocinha para vender vestidos na Feira Mix da Via Ápia. Mas, a rotina da trabalhadora mudou após o incêndio, que aconteceu no dia 12 de junho. A vendedora e outros dois feirantes perderam, juntos, mais de R$30 mil em mercadoria.
O incêndio, de grandes proporções, atingiu o trailer Viny Lanches, barracas, bares, lojas e uma farmácia na tarde do Dia dos Namorados. Apesar de moradores, integrantes da União Pró-Melhoramentos dos Moradores (UPMMR), o Corpo de Bombeiros e até a equipe da Gerência Executiva Local (GEL) terem tentado ajudar os feirantes a salvarem os produtos, o fogo lambeu tudo.
“Isso foi uma fatalidade, um divisor de águas na minha vida, uma cena de terror! Minha loja ficava literalmente na frente do trailer [que pegou fogo] e perdi toda minha mercadoria. Não sobrou nem um cabide. Parei para contabilizar o prejuízo dos produtos queimados e perdi em torno de 12 mil reais”, desabafou Samia.
Como outras lojistas, ela parte do próprio bairro para ir à Rocinha, onde leva renda para casa. No caso dela, vendia peças 100% artesanais em viscose inspiradas na marca brasileira Farm. “Meu trabalho é muito custoso. Eu que faço a escolha do tecido, corto e ponho para as costureiras confeccionarem. O custo é alto e as roupas não são confeccionadas com tanta rapidez. Foi um baita prejuízo!”, explica.
Somente em 2025, o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro registrou 18 incêndios na Rocinha. No ano passado, o número total de incêndios chegou à 31.
Raquel Queiroz, de 41 anos, proprietária da loja Marina Morena e moradora da Abolição, outro bairro da Zona Norte do Rio, também perdeu mais de R$10 mil em produtos. Toda a barraca de madeira foi queimada. Ela começou a trabalhar na favela há cinco anos na Feira do Emoções, mas passou a montar sua barraca na Feira Mix da Via Ápia desde a inauguração.
“Trabalho aqui [na Rocinha] desde 2020. Nunca imaginei na minha vida passar por uma situação daquela… Fiquei muito traumatizada. Perdi toda a minha mercadoria exposta e também a do estoque. Roupas, ferros, cabides, toda uma vida de trabalho foi perdida! Quem trabalha como nós do empreendedorismo, sabe que temos nosso próprio custo. O dinheiro que sobra a gente paga uma conta, compra uma mercadoria”, afirma.

Ela conta ainda que, no dia, “já tinha vendido bastante”. Mesmo assim, perdeu em vendas aproximadamente R$2.500
Em fevereiro, a UPMMR, em parceria com mais de 15 distribuidoras de internet da favela, iniciou uma ação preventiva mensal de limpeza de fios e cabos nos becos, vielas e ruas da favela para reduzir o impacto dos incêndios na Rocinha.
Para o trabalhador autônomo Michael Batista, de 52 anos, conhecido como Mike do Skate, a tragédia vem sendo um divisor de águas. Ele vendia essências de perfume em cima de uma mesa de bar e bebidas em uma caixa de isopor, sentado em um skate por ser uma pessoa com deficiência física.
“Esse momento [do incêndio] foi um fator crucial na minha vida. Passar por uma situação de perda total foi difícil. Quando soube, desci até o local do incêndio pra ver meus produtos que ficavam guardados do lado do trailer. Foi tudo tomado pelo fogo. Meus perfumes, essências e bebidas, tudo foi queimado! Entrei em pânico, comecei a chorar, porque é dali que tirava meu sustento. Era minha forma de sobrevivência”, relatou Mike.
O comerciante também afirma que teve um prejuízo de aproximadamente R$8 mil. “Só dentro dos isopores tinha 2 mil reais de mercadoria. No restante, tinha quase 6 mil reais. Fui a zero, perdi tudo! O incêndio foi em uma quinta-feira… na sexta-feira, já tinha show e eu iria vender bebida. Infelizmente não deu”, lamenta.
Assim como outros feirantes, Mike também recomeçou. Ele já conseguiu dois isopores para vender nos eventos e bailes funk da Rocinha. “Graças a Deus teve alguns moradores que me ajudaram divulgando minha situação e dando dinheiro. Agora, é reconstruir a barraca, conseguir a mesa e fazer a bandeira ‘Hot Mike Bear”.
