Conheça Heloísa Helena, a moradora da Rocinha mais votada para assumir o cargo de conselheira tutelar em 2024

Moradora da Rocinha recebeu mais de mil votos e assumirá o cargo pela terceira vez no CT13 Rocinha/São Conrado, outros quatro candidatos foram eleitos para o posto
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No último domingo (01/10), ocorreu em todo território nacional a votação para eleger os conselhos tutelares 2024, órgão responsável por executar e defender os direitos das crianças e dos adolescentes. No Rio de Janeiro, a assistente social, Heloísa Helena Moraes, de 62 anos, foi a mais votada do Conselho Tutelar 13, sendo reeleita para assumir o terceiro mandato no próximo ano.

“A proposta é melhorar ainda mais e buscar recursos para termos subsídios para atuar, porque senão ficamos com uma demanda muito grande e sem ter local para onde encaminhar. Não adianta bater meta de atendimentos se os problemas não forem resolvidos”, afirma Heloísa Helena, eleita no último domingo, 1º de outubro.

A conselheira tutelar teve um total de 1.183 votos nesta eleição. “É uma relação de reconhecimento do território”, opina Heloísa. Ela já foi conselheira em outros dois mandatos em períodos distintos: em 1996 e, posteriormente, em 2020, em meio a pandemia da covid-19.

Experiente na função, Heloísa Helena recebeu a equipe do Fala Roça na sua laje no alto da Rocinha. Fotos: Karen Fontoura

“No período que fomos assolados pela pandemia, com o fechamento do serviço e as relações paralisadas, toda a articulação em rede e trabalho local que se faz necessário [para o mandato de um conselheiro tutelar], foi interrompido”, relata.

“Agora, entendo que é outro momento [para trabalhar] baseado no conhecimento e na experiência para elaborar projetos diferenciados para construir e ampliar essa rede. Porque o conselho tutelar é um órgão que requisita o serviço e uma requisição não pode ser negada”, ressalta Heloísa Helena, de 62 anos. 

Trabalho e ativismo social

Nascida em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, a assistente social formada pela PUC-Rio, é educadora e veio viver na Rocinha há 38 anos. Moradora da Paula Brito, parte alta do morro, começou a construir na favela uma trajetória no ativismo social na década de 1980.

Heloísa atuou como agente comunitária e educadora da Creche Dois Irmãos, brinquedotecaria e coordenadora da creche do Centro Comunitário da Rua 2. Em 1995, ainda no cargo de coordenadora, candidatou-se às eleições do conselho tutelar pela primeira vez.

“Eu tinha uma preocupação, em relação à vida das crianças que saiam das creches, que eram integrais, [e agora], elas ficavam sem os cuidados”, explica. Segundo Heloísa, ela percebeu um movimento de crianças que eram da Rocinha circulando pela praça Jockey em horário escolar. Foi essa preocupação e observação que a motivou a conselheira a se candidatar ao cargo pela primeira vez, em 1996.

Familiaridades e pertencimento

“Eu sou de outro lugar, mas recebi acolhimento aqui dentro [na Rocinha]. Hoje todas as minhas ações, todos os meus trabalhos nessa área social é com o objetivo de devolver [as coisas boas que a favela proporcionou]. Foi aqui que tive o meu primeiro trabalho na área social. Foi aqui que ingressei na faculdade. Foi aqui que despertei o interesse de fazer formação de professores e foi aqui que eu também formei minha família”, destaca Heloísa.

Filha de Dulcinea Deoclécio e Ademar Moraes, Heloísa é a irmã mais velha de 7 irmãos. Mãe de três filhos, ela também é avó de 7 netos. “Eu tenho muito apreço por esse lugar [a Rocinha]. Aqui tem todas as coisas que me são caras, no sentido do afeto. Então, estou na minha zona de conforto baseada na minha escolha [de vida]”, conta emocionada. 

Heloísa se formou como professora de educação primária pela escola Ignácio de Azevedo e, fez técnico em química, ainda na juventude. Posteriormente, próximo aos 40 anos, ingressou no cursinho pré-vestibular de literatura teresiano, sendo aluna da escritora e intelectual Conceição Evaristo. Ela foi aprovada no vestibular da PUC Rio no mesmo ano em que foi eleita pela primeira vez como conselheira tutelar, em 1996.

“Eu sempre tenho uma frase que parece clichê, mas eu acho que ela não é minha, mas é de todo mundo que de alguma maneira milita por muitas causas ou alguma em especial que é: Respeita a Minha História, porque eu não nasci ontem. São seis décadas e nada que conquistei foi dado. Desde que nasci, eu nunca desisti das coisas que eu acho importante”, afirma a libriana Heloísa Helena Moraes Cardoso.

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