Devemos tratar o clima considerando as particularidade locais, defendem jornalistas sobre a falta de temas na COP 30

Em conferência de jornalismo, comunicadoras criticam a ausência de participação de comunidades amazônicas e a exclusão de pessoas com deficiência no debate sobre o clima

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Por Rafael Costa, do Voz das Comunidades

Com a trigésima conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima se aproximando, a 3ª Conferência de Jornalismo de Favelas e Periferias, que ocorreu entre 30/10 e 1/11, promoveu a mesa “O que não estamos falando sobre a COP 30?”. O painel contou com as jornalistas Lorrayne Batista, da iniciativa ConectaCabana (Minas Gerais) e Isabelle Maciel, do Tapajós de Fato (Pará), que levantaram questionamentos sobre como a COP 30 está sendo construída.

A mediação foi da jornalista Larissa Pontes, do Eficientes, iniciativa de jornalismo de Pernambuco voltada para pessoas com deficiência. As painelistas abordaram perspectivas a partir dos seus veículos ao mostrar as necessidades das comunidades locais e como os moradores se articulam para isso.

Deve-se tratar o clima considerando as particularidade locais, apontam jornalistas sobre a falta de temas na COP 30. Foto: Igor Siqueira

“Organizamos a COP das Quebradas para levantar questões sobre como o clima afeta a região do bairro. Além disso, para também despertar a consciência da preservação”. Isabelle acompanhou o raciocínio da colega. “Temos que tratar o clima de acordo com as particularidades das pessoas da nossa comunidade, da nossa região. As alternativas de articulação dentro de territórios para a COP são essenciais”.

Partindo dos registros dos territórios onde atuam e de como a COP é mostrada para cada região, as profissionais de comunicação criticaram a narrativa da COP a partir da grande mídia, além de o evento, mesmo sendo no coração da Amazônia, não ter a participação de comunidades locais. “Como é que a gente vai debater clima sem dar voz às comunidades tradicionais que já atuam com justiça climática?” questionou Isabelle. Larissa também citou a falta de acesso à informação de pessoas com deficiência. “O debate climático precisa ser acessível a todos. Um evento como a COP 30 não tem um debate com alguém que represente pessoas com deficiência”.

A mesa e a plateia debateram as narrativas conflitantes entre a mídia tradicional e o jornalismo comunitário. O que a mídia hegemônica descreve como “progresso” foi caracterizado pela mesa como uma narrativa distorcida. “É preciso saber como o Brasil está se posicionando dentro da COP”, comentou Isabelle quando a mesa citou a exploração de petróleo pela Petrobrás na região amazônica e o oferecimento do Brasil, pelo Governo Federal, como território disponível para construção de data centers.

Com alta recepção do público, o encontro representou um espaço de troca e fortalecimento. “Estou muito lisonjeada. Trazer o que eu vivo e o que a minha comunidade vive para o Rio de Janeiro é muito importante. Às vezes a gente se sente sozinho onde atua, e estar aqui em rede faz diferença”, afirmou Lorrayne.

Isabelle ressaltou a importância da partilha: “Ao compartilhar nossas experiências, percebemos que as realidades dos nossos territórios são próximas. Isso cria conexão e nos fortalece”. A mediadora Larissa destacou o papel transformador da mesa. “Foi um momento de provocar os jornalistas, de abrir espaço para o debate. Encontrar colegas de várias regiões do país é olhar também para a democratização da informação. Hoje, temos 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, mas apenas 2,9% têm acesso à comunicação acessível. Discutir isso aqui é fundamental”.

A COP 30 reúne quase 200 nações do mundo para debater soluções para frear a crise climática e, nesta edição, ocorrerá em Belém, capital do Pará.

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