Jovens Líderes: programa do Fala Roça capacita juventude em gestão de projetos nas favelas

Ao longo da formação, 14 projetos foram desenvolvidos pelos alunos selecionados para a capacitação, que aprenderam maneiras de colocar em prática o que aprenderam com a formação.
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Karen Fontoura

e

Igor Soares

“Posso chegar mais cedo, lá pras 17h?”. A pergunta era uma das mensagens mais frequentes recebidas no grupo de WhatsApp do Fala Roça, nos dias de formação, que começava às 18h. Nas quartas e sextas à noite, a sede do jornal se transformava em um espaço de convivência para os estudantes, que vinham direto do trabalho ou de casa, ansiosos para encontrar os amigos, a equipe, comer um lanche, conversar e adquirir conhecimento.

Entre as conversas – que ultrapassavam o horário final das aulas, às 20h30min – eles se ajudaram, compartilharam equipamentos e utilizaram os recursos do Fala Roça para desenvolver os projetos criados por eles. A permanência e engajamento dos jovens, que concluíram a capacitação em agosto, revelou a força do vínculo criado e demonstrou a importância de existir um espaço de acolhimento dedicado à juventude no morro.

O Programa Jovens Líderes da Rocinha e favelas vizinhas ofereceu formação em comunicação, defesa de causas e gestão de projetos, capacitando jovens em técnicas de argumentação, gestão e uso da comunicação para influenciar políticas públicas que atendam às necessidades dos territórios.

A formação em advocacy proporcionou aos jovens a possibilidade de colocar os sonhos no papel e trabalhar em cima desse projeto, desenvolvendo habilidades que os ajudaram a transformar sonhos em realidade. Mas o que é advocacy? Significa lutar por uma causa, defendendo direitos e buscando mudanças. É como dar voz a quem precisa, influenciando decisões importantes para melhorar a vida de um lugar ou garantir justiça social.

“Eu me encontrei aqui! Poder ajudar a minha comunidade é o meu propósito e eu encontrei [isso] dentro do Fala Roça”, conta Victoria Ferreira, de 24 anos, formada em Psicologia. Moradora da Paula Brito, ela participou da formação com a ideia de tornar o atendimento psicológico mais acessível para as pessoas da favela.

Para isso, criou do zero o projeto ‘Entre Elas’: uma iniciativa de arte e terapia desenvolvida em parceria com Giovanna Tavares, 23 anos, outra aluna da formação do Programa Jovens Líderes da Rocinha.

Diante da falta de iniciativas voltadas para essa interação criativa, conforme destacado pela assistente social e produtora Tainara Lima, ficou claro durante a formação, o quanto os jovens estão ávidos por oportunidades que despertem suas ideias, nutram seus sonhos e evidenciem as potencialidades que possuem. Ela concluiu: “Formar a juventude pode ser uma tarefa desafiadora, especialmente devido à necessidade de desenvolver o empoderamento individual”.

Nascem boas ideias

Ao longo da formação, 14 projetos foram desenvolvidos pelos alunos selecionados para a capacitação, que aprenderam maneiras de colocar em prática. “Eu sou muito nervosa na hora de falar, e eu sou bem aquela tia velha nas redes sociais. Então, isso é um problema, e ela [a professora] deu alguns toques”, explica Victoria Ferreira.

Professores experientes atuantes nas áreas dos módulos oferecidos ministraram as aulas nos três meses da formação. O intuito foi proporcionar uma experiência prática e didática aos alunos, muitos dos quais tiveram o primeiro contato com temas oferecidos. Um exemplo disso foram as aulas de comunicação ministradas pela jornalista Lia Soares.

“É muito importante porque é um programa de formação para jovens líderes. São pessoas que já trabalhavam nessa área de comunicação e do jornalismo de causa dentro de zonas periféricas na cidade. É um programa que tem como o principal objetivo profissionalizar o olhar, é muito potente”, opina Lia.

O interesse e mobilização dos participantes nas aulas foi destacado pela jornalista. “Foi um grupo muito empenhado e atento, que quer aprender de alguma forma”, afirma.

Iara Batista apresentou o projeto Acolher Periférico, uma iniciativa de educação e informações sobre gravidez para com mulheres periféricas e leigas. Foto: Daniel Grehs

O trabalho final do programa foi a apresentação de um pitch – técnica mais utilizada para apresentar um negócio ou uma ideia de negócio. Cada aluno e/ou grupo foi avaliado por uma comissão de banca formada por convidados de instituições sociais e privadas, que atuam nas áreas sociais.

O objetivo foi oferecer orientações sobre como aprimorar as apresentações para possíveis financiadores do projeto ou negócio. Além disso, o momento da banca permitiu que os estudantes se conectassem, tanto com pessoas que atuam em projetos no território quanto com representantes de empresas privadas envolvidas em responsabilidade social dentro das organizações.

A atividade foi uma oportunidade prática para os jovens vivenciarem como funciona uma banca avaliadora de projetos sociais, com tempo limitado para otimizar as ideias de forma rápida e assertiva. Uma preparação para oportunidades no futuro.

Antes mesmo da formação terminar, os participantes da capacitação já lamentavam o fim do curso nas redes sociais e o desejo por adquirir mais conhecimento. Esse engajamento reforçou a importância de manter a rede dos jovens ativa, ação que o Fala Roça pretende fazer em colaboração com outros projetos, como o Parque de Inovação Social, Tecnológica e Ambiental (PISTA) e o Beco Incubadora da Rocinha.

“Foi incrível participar da banca, ver muitos [os participantes] com ideias de transformar a Rocinha”, destacou Iza Botelho, coordenadora do Beco Incubadora, iniciativa que visa impulsionar novos negócios na favela.

Ela foi uma das avaliadoras da banca final dos projetos que nasceram da formação e ressalta a importância de serem oferecidas oportunidades às pessoas. “Eu fico muito feliz de encontrar rostos encantados, com vontade de querer mudar coisas que, no dia a dia, incomodam. Tem mais formiguinhas incomodadas com o problema”, finaliza.

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