Carlos Costa, jornalista e ex-líder comunitário, morre aos 59 anos
Carlos Costa viveu na Rocinha por 45 anos. Dedicou 30 anos às lutas comunitárias. Saiu da Rocinha, mas a Rocinha nunca saiu dele. “É difícil cortar o cordão umbilical com a favela”, diria ele que fez muito pela Rocinha.
Negro, católico, filho adotivo de um jardineiro e de uma dona de casa, atuou em diversas frentes de lutas e trabalhos sociais. Oriundo dos movimentos da juventude católica, o engajamento começou através do grupo jovem da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, o Força Jovem com Cristo (FORJOC).
Organizou e coordenou as atividades de cultura e lazer no Movimento Pró-Casa da Cultura, no alto da Rocinha. Em 1992, o Rio de Janeiro recebeu a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92. Foi dele a iniciativa de criar um grupo de ecologia na Rocinha para fazer debates e ações neste ano. Só a Rocinha segura a Rocinha, em alusão ao crescimento do morro contrapondo as tentativas de preservar a natureza.
Em 1998, criou a ONG Movimento Rocinha Comunidade XXI (Rocinha XXI) no qual junto com a Associação Comercial e Industrial do Bairro Rocinha (ACIBRO) fortaleceu o empreendedorismo e promoveu fóruns, seminários, feiras e cursos de qualificação de lideranças comunitárias e empreendedoras.
Um comunicador nato foi se revelando na comunicação comunitária antes mesmo da convergência midiática e a popularização da internet na década de 90. Carlão, um dos apelidos, fez parte da rádio e do impresso Katana, produziu e escreveu para os jornais Meio Tempo e Correio da Zona Sul.
Referência em jornalismo local, Carlos Costa foi um midiativista à frente de seu tempo. Dois anos depois, em 2000, fundou junto com Edu Casaes e Deo Pessoa o próprio veículo impresso, o Rocinha Notícias, que durou cerca de 20 anos com presença na web. De cara, os moradores adoraram o jornal pelo jeito de partir pra briga direta. O slogan conquistou os moradores: “Rocinha Notícias: o jornal que é a cara da Rocinha”.
Após entrar para a ONG Viva Rio, em 1999, passou a desenvolver vários trabalhos como mediador de conflitos e articulação de redes sociais da instituição. Através do Viva Rio, criaram o portal Viva Favela, site pioneiro de notícias sobre favelas na ótica dos moradores contrapondo ao jornalismo tradicional.
Concluído em 2008, Carlos Costa lançou o livro “Rocinha em OFF – Histórias que a mídia não soube, não pôde ou não quis contar”, em 2012, no mesmo ano em que a Rocinha foi ocupada por forças policiais para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora na Rocinha. O livro marcou o encerramento de seu ciclo de líder comunitário.
A obra revela os bastidores da delicada relação entre as lideranças comunitárias e o poder paralelo na Rocinha, desde a década de 1970. Em um dos capítulos, ele destacou que os conflitos entre 2004 e 2005 deixou marcas e traumas na vida, considerado uma época de repactuação de valores, olhares e atitudes.
Nesse período, de 2004 a 2007, o jornalista ocupou o cargo de presidente da Associação de Moradores do Laboriaux, localidade mais alta da Rocinha.
Carlos Roberto da Silva Costa faleceu no sábado (3/7), aos 59 anos. A causa do falecimento não foi divulgada. O sepultamento ocorreu no domingo (4/7), no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona oeste do Rio de Janeiro.