A educadora Francisca Elizia de Medeiros Pirozi, conhecida como Dona Elizia, morreu aos 77 anos, nesta segunda-feira (03/04). Conhecida por sua luta na área da educação na Rocinha, Elizia fazia um trabalho comunitário de alfabetização de crianças e adultos desde os anos 1970, através do Centro Comunitário União Faz a Força, na Rua 1, parte alta da Rocinha.

Natural do Rio Grande do Norte, ela chegou à Rocinha em 1966. Viúva de um italiano, seu marido faleceu em 1994 e deixou duas pensões que foram importantes para seus trabalhos sociais na favela. A experiente costureira e estilista desenvolveu nas últimas décadas um trabalho de artesanato com papel reciclado, em que crianças aprendiam a técnica da cestaria. Tamanho sucesso que seus produtos foram exportados para diversos países.

Em entrevista ao Centro de Pesquisa e Documentário de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), em 2000, Dona Elizia conta como despertou seu desejo pela alfabetização. “Minhas filhas eram de uma escola muito boa e começaram a trazer para dentro de casas outras crianças que tinham escola. Dentro de casa, Adriana ensinava os meninos a ler e a escrever. Como aprendeu sozinha, com cinco anos, logo ela começou a ensinar as outras crianças; muito parecido com a minha história. Quando vi que era demais para ela, comecei a dar aulas também. Meu marido trabalhava num prédio e trazia o jornal para casa; aí fui vendo que do jornal dava para fazer livro. Fiz misérias para aprender um processo de alfabetização que atendesse às necessidades dos meninos, da molecada”, conta ela.

 

Crianças na lage da creche da Dona Elisa nos anos 90. (Foto: Arquivo/Jornal Arte Astral)

 

Foi em 1978, que ela abriu um barracão, sem porta nem janela, para adultos e crianças no alto da Rocinha. Elizia formou-se como professora em 1988, na Escola Estadual Inácio Azevedo do Amaral, no Jardim Botânico. Dona Elizia nunca se candidatou em cargos políticos porque, segundo ela, tinha muita podridão. Como sempre, queria apenas ter o direito de falar e reivindicar investimentos públicos.

Também teve um papel importante no acesso de moradores da Rocinha à universidade. Foi uma das fundadoras do pré-vestibular comunitário do Colégio Teresiano, na Gávea. Sempre criticando o poder público, dizia que o governo não foi formado para servir à sua gente, segundo ela, esse era o grande desastre social.

Nas redes sociais, moradores lamentaram a morte de Elizia:

Ela deixa duas filhas e uma legião de filhos “artificiais” – como ela sempre dizia – que aprenderam os valores da educação na vida. O horário e o local do enterro ainda não foram divulgados pela família. Esta matéria será atualizada, assim que possível.

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