Ex-atleta norte-americana Ashleigh Huffman visita projeto na Rocinha

Referência no basquete e ex-chefe de Diplomacia Esportiva do Departamento dos EUA , ela esteve no Complexo Esportivo da Rocinha

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Ashleigh Huffman, Diretora Sênior de Parcerias Estratégicas do Aspen Institute e referência no basquete, foi à Rocinha acompanhada da equipe para conhecer o projeto social Mudando o Placar (MOP). A visita ao Complexo Esportivo da Rocinha foi realizada no dia 1º agosto e articulada pelo Consulado-Geral dos Estados Unidos da América do Rio de Janeiro, com o objetivo de estabelecer uma trocar conhecimento com as crianças e adolescentes que jogam basquete, além de incentivá-los no esporte e na educação. 

No encontro, a ex-atleta de basquete brincou de pedra, papel e tesoura com os participantes do projeto com o intuito de fazer uma comparação aos princípios do esporte e mostrar que nem sempre se pode vencer. Para Ashleigh, norte-americana de 42 anos nascida na Virgínia Ocidental, sul dos Estados Unidos,  o esporte foi o caminho que trouxe oportunidades únicas na vida. 

“Eu vim de uma cidade [Poca] com uma média de 800 habitantes. O Estado tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) dos Estados Unidos. Se não fosse o incentivo do meu pai para eu continuar no basquete, não teria nada [na vida]. O esporte abre o caminho para a vida e só ganhei tudo que tenho por causa do basquete e dos estudos”, afirmou a  atleta em uma roda com 26 crianças e adolescentes da Rocinha.

Em 2023, a Prefeitura do Rio publicou uma lista com os bairros que têm as melhores e piores taxas de Índice de Progresso Social da cidade, desenvolvido pelo Instituto Pereira Passos (IPP). A Rocinha aparece em 121º lugar em um ranking de 158 bairros, enquanto bairros vizinhos como São Conrado, Gávea e Leblon estão entre os 15 primeiros.

Atualmente, a ex-capitã do time de basquete da Eastern Kentuck University é especialista em diplomacia esportiva, equidade de gênero e impacto social. Ashleigh ainda  fez eventos como Olimpíadas e Copa do Mundo, além de  atuar em 130 países com um trabalho focado em atletas, treinadores, empresas e formuladores de políticas públicas para criar soluções.

Após a conversa, facilitada por duas tradutoras que auxiliaram a ex-chefe de Diplomacia Esportiva do Departamento dos Estados Unidos, Ashleigh realizou um treino de 15 minutos com os atletas mirins. Ela tentou ensinar habilidades e táticas que usava durante os jogos na liga universitária e corrigir e melhorar técnicas dos alunos. O espaço foi tomado por sorrisos largos e uma energia vibrante.

Isabelle Lima, de 13 anos, aluna do MOP, é moradora da Rua 3, parte alta da Rocinha. Ela estava empolgada com a presença de Ashleigh. Os olhos da adolescente brilhavam enquanto fazia a atividade e conversava com a ex-atleta e os colegas.

“Acabei de conhecê-la e achei uma experiência incrível. Ela ensinou várias coisas pra gente em poucas horas. Acho impressionante como ela veio de um lugar com pobreza, drogas, pouca saúde e pouco dinheiro. Chegar até onde ela chegou é impressionante. Eu quero isso quando crescer, quero ser igual a Ashleigh, quero poder ter a oportunidade de evoluir como ela!”, expressou a atleta.

Ashleigh Huffman e Isabelle Lima rodando a bola de basquete na mão no Complexo Esportivo da Rocinha. Foto: Rodrigo Silva
Ashleigh Huffman e Isabelle Lima rodando a bola de basquete na mão no Complexo Esportivo da Rocinha. Foto: Rodrigo Silva

Machismo não parou atleta 

Ashleigh revelou para a turma que abandonou a carreira no basquete devido à complicações físicas e teve que passar por cirurgias. Além disso, ressaltou o impacto do machismo presente no esporte e em outros trabalhos. 

“Lidar com meninos é difícil. Eles não me passavam a bola porque eu sou uma garota. Eles não eram tão amigáveis como vocês [meninos do projeto MOP]. Depois de seis jogos, eles viram meu valor, viram que eu era habilidosa. Essa é minha 15ª vez no Brasil e sei quão talentosos vocês [brasileiros] são”, contou Ashleigh.

E complementa: “É incrível o que o projeto e vocês [jogadores] fazem aqui. É muito importante ter alguém que acredita em você e eu vejo isso acontecer aqui. Eu trabalhei no Rio três vezes, em diferentes lugares, e sempre vejo a mesma paixão e criatividade em qualquer lugar. Espero voltar e poder ajudar mais.”

Desde 2001, o Brasil destinou R$ 43,4 bilhões aos esportes olímpicos. Programas como Bolsa Atleta, Atleta de Alto Rendimento e políticas de incentivo como Lei das Loterias e Lei do Incentivo ao Esporte são essenciais para dar continuidade ao protagonismo brasileiro nos esportes.

Layana de Souza, de 33 anos, fundadora do MOP e atleta de basquete afirmou se sentir  honrada com a visita e  identificou-se com a história de vida  da norte-americana.

“A visita da Ashleigh é muito importante pra gente [do MOP]. Fiquei emocionada quando ela contou a história dela, porque sou nascida e criada na Rocinha. Foi através do basquete que fui a primeira pessoa da minha família a ir pra faculdade. Sempre digo [para os alunos] que é possível crescer [através do esporte] e quando alguém como ela vem aqui e fala as mesmas coisas que sempre falamos, dá credibilidade ao nosso trabalho e nossa fala”, ressalta Layana. 

Ela revela os próximos passos para o futuro do projeto. “Estamos focando agora em trazer mais instituições parceiras. Queremos parcerias extra-quadra. Hoje temos 15 crianças fazendo aula de inglês, queremos apoio psicológico para saúde mental, reforço escolar, tudo para fazer um desenvolvimento pessoal para os alunos.”

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