Eu sou irmão de uma criança autista de dez anos e vejo de perto a luta diária da minha mãe para incluir minha irmã, Ana Rayssa Silva, nos serviços específicos para pessoas autistas e no meio educacional. É triste ver que a falta de acessibilidade para pessoas do espectro autista é um problema recorrente que atinge a cidade e prejudica a vida de muitas famílias.

Pior ainda para aqueles que moram em favelas, pois precisam recorrer a serviços públicos fora de seu território e disputar vagas de mediadores, se é que há disponibilidade.

Acredito que a inclusão é uma necessidade urgente, que vai além da questão de visibilidade. Desde 2008, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou que o dia 2 de abril é a data mundial para conscientização do autismo, mas ainda há muito a ser feito. É triste ver que a falta de acessibilidade, mediação, recursos e planejamento nessas áreas dificulta o desenvolvimento e a inclusão das pessoas autistas.

Além disso, é preocupante ver que, mesmo com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) pago pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), minha mãe precisa gastar metade desse benefício com remédios controlados, já que geralmente eles não são fornecidos pelo SUS. E ainda há a luta na Defensoria Pública para conseguir um profissional mediador no ambiente escolar, o que atrasa ainda mais o desenvolvimento da minha irmã e de tantas outras crianças autistas.

Na Rede Municipal do Rio de Janeiro, há mais de 20 mil alunos com deficiência registrados, mas apenas cerca de mil mediadores para distribuir em todas as escolas municipais. 

É muito importante garantir o acesso a serviços públicos de qualidade para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Infelizmente, muitas famílias na Rocinha e em outras áreas empobrecidas do Rio de Janeiro enfrentam dificuldades para obter serviços e atendimentos para seus filhos autistas. Embora existam unidades públicas na Rocinha, elas não possuem recursos suficientes para oferecer um acompanhamento completo para crianças autistas. Isso leva muitas famílias a buscar atendimento particular fora da Rocinha, o que pode ser caro e inacessível para muitos.

Eu sei como é essa situação porque procuramos atendimento particular para a minha irmã, que tem 10 anos, devido à falta de recursos adequados na Rocinha. O CAPS Maria do Socorro Santos só atende pessoas com autismo a partir dos 18 anos, de acordo com informações dadas à nossa família. Também percebemos que lá tem mais pessoas com esquizofrenia do que com autismo. A opção de atendimento mais próxima é na Clínica da Família Rinaldo de Lamare.

A terapia ocupacional da minha irmã ocorre quinzenalmente, o que muitas pessoas consideram insuficiente. Isso é preocupante porque o acesso a serviços de qualidade é essencial para o desenvolvimento físico e mental de pessoas autistas.

Em abril de 2023, o prefeito Eduardo Paes aprovou o Projeto de Lei nº 157, que foca no atendimento multidisciplinar para pessoas com TEA no Município do Rio de Janeiro, composta de neurólogos, psicólogos, psiquiatras, fonoaudiólogos e terapeutas. Isso é um passo importante para garantir que todas as pessoas com TEA tenham acesso a serviços de qualidade, independentemente de sua localização ou renda.

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), criada em 2015, existe para garantir a inclusão social de pessoas com deficiência, incluindo pessoas com TEA. No entanto, ainda há muitas crianças que estão isentas de um serviço que é garantido por lei em todo o país. 

Ainda assim, é importante destacar o que está sendo feito de positivo na Rocinha. O Complexo Esportivo da Rocinha oferece espaços sociais que desenvolvem atividades físicas para autistas, como a prática da natação e outros esportes, o que é um feito grandioso. 

Isso mostra que é possível criar espaços inclusivos para pessoas com deficiência em áreas carentes. É importante continuar lutando por mais investimentos em serviços públicos de qualidade para pessoas com TEA. É essencial que todos tenham acesso a serviços de qualidade para garantir a inclusão e o desenvolvimento pleno de cada indivíduo.

É hora de investir em recursos e planejamento para tornar a cidade mais acessível e inclusiva para as pessoas autistas e suas famílias. É uma luta delicada e difícil, mas é uma luta que precisa ser vencida.

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