Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul do Rio. Foto: TASSO MARCELO/AGENCIA ESTADO/AE
Unidade de Pronto Atendimento (UPA), na favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul do Rio. Foto: TASSO MARCELO/AGENCIA ESTADO/AE

Se a Prefeitura do Rio de Janeiro não recuar na sua decisão de promover profundos cortes no orçamento destinado à saúde, a população carioca, que atualmente já sofre com a falta de vagas nos hospitais e com o esvaziamento do estoque de medicamentos na rede pública, terá sua ‘via crucis’ estendida em proporções nunca antes vistas nos próximos meses.

A crise econômica que atinge o país, cujos cofres sofreram vultosas sangrias nos últimos anos, tem seus efeitos potencializados por aqui, também por conta dos sucessivos desfalques nas finanças do estado. O município, que até o final da gestão Eduardo Paes parecia imune à tempestade que atinge a economia estadual desde 2016, agora começa a dar sinais de fragilidade e de anemia.

Desde que assumiu a prefeitura, em janeiro deste ano, o prefeito Marcelo Crivella vem afirmando que o alardeado superávit deixado pela gestão passada não foi confirmado pelos levantamentos feitos pela sua equipe. Ele chegou a afirmar que os gastos da prefeitura são superiores à receita de arrecadação prevista para este ano. Essa queda seria na casa dos quatro bilhões de reais e que, portanto, teria de adequar as despesas do município aos recursos disponíveis nos cofres da prefeitura.

No âmbito da saúde, Crivella anunciou uma redução de 500 milhões de reais no orçamento anual destinado ao setor, valor que foi ratificado e aprovado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro no início do ano. O volume dos cortes atingiu em cheio o Programa Estratégia Saúde da Família, um dos principais pilares da Atenção Primária do Ministério da Saúde.  

A supressão de recursos destinados à saúde ultrapassou o montante anunciado pelo prefeito e já chegou à casa dos 545 milhões de reais, fato que tem levado caos à já combalida saúde pública do Município.

Se até há  alguns anos atrás a população já reclamava da falta de médicos especialistas na rede pública, da falta de vagas para consultas e internações e da demora em conseguir um encaminhamento para realização de exames de alta complexidade, agora terá motivos de sobra para cobrar.  

Hoje, na rede municipal, praticamente falta tudo: remédios para hipertensão e diabetes, antibióticos, analgésicos, antidepressivos e outros medicamentos da grade popular. E não fica só nisso. Também há falta de insumos para o funcionamentos de clínicas e hospitais e tem profissionais de algumas Áreas de Planejamento sem salários e gratificações há meses.

Até o suprimento de alimentos para as pessoas internadas ou acompanhadas em hospitais, UPAS e CAPS está sendo prejudicado. Esta semana, a imprensa noticiou que os pacientes assistidos pelo Hospital Rocha Faria, na Zona Oeste, estão passando fome, pois a prefeitura não vem efetuando o pagamento à empresa fornecedora.

Na Rocinha, a Clínica da Família Maria do Socorro Silva e Souza, terá o serviço de realização de ultra sonografia suspenso nos próximos dias, também porque a Prefeitura não vem pagando o que deve à empresa responsável pela realização desse procedimento. Os pacientes que necessitarem de ultrassonografia serão encaminhados, a partir de dezembro, para outros locais, via Sisreg.

Há cerca de um mês, quando começou a greve dos profissionais de saúde da CF Maria do Socorro, apenas 30 por cento do efetivo está trabalhando para atender as pessoas que acorrem à unidade. Os profissionais – médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde se revezam no dia-a-dia para acolher a demanda. Mas a situação inspira cuidados, embora um esforço muito grande esteja sendo desprendido para atender a população. Há falta de medicamentos e insumos para a manutenção da clínica.

No dia 29 de novembro, profissionais das três Clínicas da Família da Rocinha realizaram uma manifestação em Frente à Clínica da Família Rinaldo de Lamare, em São Conrado, para chamar à atenção da opinião pública acerca da grave crise na saúde. Do de Lamare os profissionais saíram em passeata pelas principais ruas da comunidade, Outras manifestações deverão ocorrer nos próximos dias, até que o prefeito se comprometa a reverter o processo de desmantelamento do Programa Estratégia Saúde da Família.

*Sou Eraldo Silva, 60, radialista e jornalista, natural de Campina Grande, Paraíba. Comecei minha carreira na imprensa em 1977, no Rádio AM (Rádio Caturité), em minha terra natal. Também trabalhei em outras emissoras, AM e FM, na Paraíba, no Ceará e Rio de Janeiro. Em 1992 tornei-me jornalista profissional, ano em que conclui meu bacharelado em Comunicação Social (Jornalismo impresso) na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A partir de então fui repórter de cidades em órgãos de imprensa como JORNAL DA PARAÍBA, CORREIO DA PARAÍBA (Sucursal de Campina Grande) e no periódico A PALAVRA. Também tive passagem pelo jornalismo impresso de Tocantis (TO). Aqui no Rio de Janeiro fui locutor animador e noticiarista de rádio e também fiz assessoria de imprensa por alguns anos. Atualmente trabalho na área de saúde da família.

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