Primeira quadra de basquete 3×3 é inaugurada na Rocinha
Iniciativa quer revitalizar mais 12 quadras na Rocinha que estão sem manutenção
Em meio aos tons acinzentados, com paredes sujas e grafites desgastados pelo tempo, a quadra do Castelinho, na localidade Paula Brito, simbolizava o abandono das autoridades públicas a um espaço de lazer que as crianças teimavam em ocupar. Hoje, revitalizada com vibrantes tons de azul, frases motivacionais e novos desenhos nas paredes, ela se transforma em um símbolo do que outras quadras podem se tornar na Rocinha.
“Aquela quadra está ali há anos e nunca teve um olhar mais cuidadoso como agora. Eu espero que possam manter como está e que seja usada com cuidado, e eu tenho certeza de que não sou a única moradora do Atalho [na Paula Brito] que tem o mesmo sentimento de satisfação”, explica Eduarda Lima, de 24 anos e moradora do Atalho.
A reforma da quadra, patrocinada pela Altipisos, foi realizada pelo Revitalizaro, um projeto social que busca aproximar o basquete 3×3 da cultura da favela. Essa é a primeira quadra pública em uma favela do Brasil com medidas e piso oficial de basquete 3×3, utilizando um piso modular de alta qualidade.
Com os espaços de lazer limitados, a atuação do projeto vai além da simples criação de uma escolinha de basquete, proporcionando à favela um espaço oficial para a prática esportiva.
O projeto quer revitalizar outras 12 quadras na favela que estão sem manutenção há anos, para adaptar as quadras ao tipo de esporte que será oferecido. “Nossa proposta não é só revitalizar os espaços de lazer, mas revitalizar as relações entre a comunidade, os moradores e os empresários locais”, explica Leandro Discreto, idealizador do projeto.
Atualmente, a iniciativa beneficia 70 crianças e muitas atividades são realizadas em outras 7 quadras que não estão reformadas. O intuito é que outras pessoas ou empresas interessadas se aproximem para fazer a diferença nos espaços de lazer da Rocinha.
“A ideia é tentar, em espaços como esse, tornar bonito, agradável e limpo, dar a eles a dignidade que merecem, de estar em um lugar realmente compatível com o que um jovem ou uma criança merece, especialmente em uma fase tão importante da vida”, explica Leandro Discreto, 40 anos.
O Basquete 3×3 é uma modalidade que surgiu nas ruas dos Estados Unidos, com equipes formadas por 3 jogadores. Ele é ideal para quadras menores do que as usadas no basquete tradicional, mantendo a essência do esporte em um formato mais ágil e dinâmico.
A iniciativa nasce a partir de uma percepção de Leandro, que identificou a falta de uma quadra de basquete na Rocinha e como isso impactou sua trajetória como atleta, que precisava ir para outros bairros para praticar o esporte, tornando-se uma referência na modalidade olímpica: “Eu sou o primeiro atleta profissional do país de basquete 3×3”, conta.
Após viajar por diversos países graças às oportunidades proporcionadas pelo esporte, Leandro decidiu retornar ao Brasil há dois anos para realizar um sonho que sempre carregou consigo: trazer o basquete para a favela onde cresceu. No início, o idealizador começou instalando tabelas de basquete nas quadras existentes na Rocinha, colocando as cestas onde as crianças poderiam praticar os arremessos.
E, caso consiga reformar mais quadras, a ideia é montar um calendário anual de torneios de Basquete 3×3 entre as escolinhas existentes nas quadras que serão revitalizadas, em diferentes localidades do morro. “Nossa proposta, através do basquete, é criar uma comunidade mais ativa dentro das atividades físicas, a gente busca criar essa cultura aqui dentro”, explica Leandro.
O projeto social também já começou a formar profissionais. Nicolas Rodrigues, de 20 anos e morador do Escadão da Rua 1, começou no projeto como aluno e hoje é professor da escolinha de basquete: “O esporte muda a vida de uma pessoa de várias maneiras, traz outra perspectiva, é outra disciplina que a pessoa aprende com o esporte”, explica o professor.
Assim como o idealizador do projeto, Nicolas também foi um jovem da Rocinha que precisava ir para outros bairros da cidade para jogar basquete. “Uma das coisas que eu mais senti falta foi de uma quadra específica [para o basquete] dentro da Rocinha”, conta Nicolas. Ver a evolução dos alunos, em relação ao basquete, é o que tem motivado o professor a atuar no projeto.