O presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Wallace Pereira, usou as redes sociais na noite desta quinta-feira (30/4), para expressar sua indignação com a instalação de um tomógrafo no estacionamento da igreja Universal do Reino de Deus, na entrada da Rocinha.

Segundo Wallace Pereira, o acordo inicial feito com a secretária municipal de saúde do Rio, Beatriz Busch e assessores do prefeito Marcelo Crivella, seria de instalar o tomógrafo ao lado da UPA da Rocinha, na Curva do “S”, onde funcionava uma academia da terceira idade. “Eu estou surpreso que vai ser na garagem da igreja Universal. Peço desculpas aos moradores por informar que realmente seria na UPA”, lamentou ele torcendo para que mesmo com a mudança de local, o tomógrafo possa ajudar os moradores no diagnóstico da Covid-19.

Ele também pontuou que o templo religioso não é localizado dentro da Rocinha, e sim, em São Conrado. “Universal não é Rocinha, Rocinha é lá dentro, aqui se chama São Conrado. Estou um pouco decepcionado pela promessa de que o tomógrafo serviria a UPA da Rocinha. Infelizmente não sou prefeito, mas estou reivindicando. O importante é que, com todas as adversidades, o tomógrafo está chegando aqui próximo e poderá atender muitas pessoas”, conclui Wallace Pereira.

Segundo o Painel Rio COVID-19, 34 moradores de São Conrado estão com Covid-19 e uma pessoa morreu. Na Rocinha, o número de casos confirmados saltou para 71 e 8 moradores morreram, de acordo com o boletim do dia 30/4. Os números de casos confirmados e óbitos podem ser ainda maiores por fatores como a dificuldade de isolamento social, a arquitetura das moradias e a falta de testes na rede pública de saúde.

Autoridades públicas monitoram o caso

O ouvidor geral da Defensoria Pública, Guilherme Pimentel, reprovou a atitude da Prefeitura do Rio em realocar o tomógrafo e diz que é preciso garantir que o equipamento esteja disponível para a população rapidamente, de forma adequada, reforçando os aparelhos de saúde pública e garantindo o acesso dos moradores. “É preocupante que recursos públicos da saúde sejam utilizados para reforçar determinadas instituições religiosas. Já avisamos a Coordenação de Saúde da Defensoria Pública, que está trabalhando incansavelmente para a garantia do acesso da população à saúde”, disse Guilherme Pimentel ao Fala Roça.

Já o vereador Paulo Pinheiro (PSOL), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, fará uma representação no Ministério Público contra a instalação do tomógrafo na igreja Universal.

Segundo ele, a explicação dada pelos membros do governo é que daria muito trabalho de colocar o tomógrafo na UPA e seria mais fácil colocar no estacionamento da igreja. O parlamentar apontou outros locais dentro da Rocinha que poderiam receber o equipamento “Há instalações perfeitas para colocar lá. Se não pode colocar lá, o que vai ser um transtorno porque o cidadão vai precisar descer a Rocinha, fazer a tomografia e voltar na UPA. Se não pode na UPA, coloque onde já exista uma estrutura pronta que é no Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare. O estacionamento da escola de samba também é outro setor que poderia ser colocado. Agora colocar um equipamento de saúde numa igreja é lamentável. Tem alguma coisa de mais grave por trás disso”, disse o vereador Paulo Pinheiro.

Para Ligia Bahia, especialista em saúde pública da UFRJ, a instalação do tomógrafo no estacionamento da igreja evangélica caracteriza uso indevido, incorreto e imoral de recurso assistencial. “A instalação de um equipamento estratégico para a saúde em local não publico. Igrejas são locais para o acesso de seus fieis. Doença não escolhe as pessoas de determinadas crenças, ocorrem em todos.  Discriminar o acesso, ainda que se afirme que não, que se argumente ser uma igreja é proibido pela legislação brasileira”, afirma Ligia Bahia.

Moradores criaram uma petição virtual que está coletando assinaturas contra a instalação do tomógrafo na igreja evangélica. Até o fim da manhã desta sexta-feira (01/05), cerca de 200 pessoas assinaram a petição que será enviada para o prefeito Marcelo Crivella. “A Rocinha tem a UPA, o Centro Municipal Albert Sabin e o Centro de Cidadania Rinaldo Delamare. Será que a favela terá que recorrer ao Ministério Público para fazer valer o óbvio? Os pacientes precisam de acesso rápido ao equipamento. Colocar o tomógrafo fora do ambiente hospitalar irá dificultar o acesso dos pacientes e a agilidade dos profissionais de saúde”, alerta a petição. 

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