Sob as sombras da variante Ômicron, os alunos da rede municipal de ensino participaram, nesta segunda-feira (7), do primeiro dia do ano letivo no Rio de Janeiro. De forma 100% presencial, as escolas se prepararam em janeiro para o que consideram 4 grandes desafios este ano na educação pública: o retorno às aulas presenciais, o combate à evasão, a estruturação da recomposição de aprendizagem e o acolhimento dos alunos.

Na Rocinha existem 5 escolas municipais, 2 creches municipais e um espaço de desenvolvimento infantil. A escola municipal Luiz Paulo Horta foi a última unidade escolar construída na Rocinha nos últimos 10 anos a partir de mobilizações comunitárias para atender crianças do 1° ao 6° do ensino fundamental. A escola foi construída no pátio do CIEP Dr. Bento Rubião e passou a receber alunos remanejados do Ciep e da escola municipal Francisco de Paula Brito, além de novos estudantes.

Até a última sexta-feira (4/2), o CIEP Dr. Bento Rubião tinha 461 crianças matriculadas no ensino fundamental e 56 alunos inscritos na educação infantil, segundo Andrea Guimarães, diretora do CIEP há 7 anos. “A gente está sempre acima do limite. Existe um número de vagas que comporta aquela turma. Trabalhamos com 10%, principalmente, nas turmas menores. Estamos sempre trabalhando em cima desses 10%.”, explica ela que complementa após mais uma criança ser matriculada pelos pais: “Temos reações [de pais] até de chorar porque a gente sabe que é difícil encontrar vaga na Rocinha. Isso dá ânimo para todo mundo. Para nós e os responsáveis é encontrar uma vaga em um lugar de esperança”.

De acordo com dados do Censo Escolar 2019, produzido pelo INEP, 1.103 estudantes das redes municipais e estaduais do Rio de Janeiro abandonaram a escola. No entanto, esse número não chega aos pés do impacto da pandemia de covid-19. Gestores da Secretaria Municipal de Educação (SME) avaliam que 25 mil alunos abandonam as escolas do município no último bimestre de 2021. Este ano, são 669.504 crianças matriculadas na rede municipal de ensino.

Construído nos anos 80, o CIEP Dr. Bento Rubião formou milhares de moradores da Rocinha. Foto: Michel Silva/Fala Roça

Não há dúvidas de que as questões sociais são os motivos para o abandono escolar. Andrea Guimarães aponta que para manter os alunos dentro das escolas é necessário o apoio da comunidade. “Antes da pandemia já fazia esse processo de abrir a escola para a comunidade. A partir do momento que a comunidade se sente pertencente à escola, a escola vira um lugar de referência. Nosso desejo é voltar esse movimento este ano para diminuir a evasão escolar”, diz Guimarães.

Embora o acolhimento nas escolas seja crucial para o fortalecimento local, o pesquisador e colaborador do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CIESPI/PUC-Rio), Antonio Carlos Firmino, não vê uma relação fragilizada com os moradores. Para ele, a falta de investimentos públicos são os principais vilões. “Eu vejo a falta de investimento como um todo, porém o fato da escola estar dentro da favela onde nós estamos sujeitos a imprevistos em qualquer momento fragiliza o processo educacional de qualquer criança”.

“A gente está sempre acima do limite. Existe um número de vagas que comporta aquela turma. Trabalhamos com 10%, principalmente, nas turmas menores. Estamos sempre trabalhando em cima desses 10%”

Andrea Guimarães, diretora do CIEP Dr. Bento Rubião

Além de contar com a ajuda dos moradores, os professores e diretores das escolas municipais na Rocinha recorrem à busca ativa. Segundo a SME, a busca ativa é feita com base nos cadastros da Estratégia Saúde da Família (ESF) da Secretaria Municipal de Saúde, dos benefícios sociais da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) e do governo federal.

A busca ativa também será usada a partir do próximo dia 10 para reverter a baixa procura pela vacinação infantil contra a Covid-19. Em janeiro, o Fala Roça noticiou que apenas 785 crianças de 5 a 11 anos receberam a vacina entre os dias 17/1 e 25/1. A secretaria de saúde reforça que as vacinas pediátricas são seguras e eficazes e protegem contra casos graves da Covid-19.

Entrada da E.M. Francisco de Paula Brito, na Dioneia, parte alta da Rocinha. Foto: Michel Silva/Fala Roça

Se as escolas tentam diminuir a evasão escolar, as unidades escolares tentam suprir a falta de professores. O Fala Roça identificou que faltam 5 professores na E. M. Francisco de Paula Brito. Já no CIEP Dr. Bento Rubião, 2 professores descompletam a grade de ensino. Semana passada, a prefeitura convocou 1.121 professores para reforçar as equipes das escolas da rede municipal. 

“A secretaria reforça que é uma prioridade garantir o pleno funcionamento das escolas e a presença de profissionais nas salas de aula. Em 2021 foram convocados 1.091 professores, e outros 500 tiveram a jornada ampliada para 40 horas. Outras ações da secretaria serão a migração de mais 500 professores para o regime de 40 horas e a convocação de 750 agentes educadores (inspetores).”, divulgou a SME.

Assine nossa newsletter

Receba uma curadoria das nossas reportagens.

VOCÊ TAMBÉM PODERÁ GOSTAR

Pré-vestibulares comunitários na Rocinha aprovam moradores em universidades

Planejado como instrumento de acesso da favela à universidade e de construção…

Creche na Rocinha vira referência para crianças com deficiência

O ensino infantil é uma etapa importante da educação básica e faz…