Por um bom tempo, a juventude na favela cresceu querendo seguir carreira no futebol. Em um segundo momento, os beatmakers passaram a fazer parte do sonho juvenil com as batidas e ritmos contagiantes dos bailes funks cariocas e no rap brasileiro.

Aos 25 anos, o produtor musical Marcelo Italo cresceu estudando como produzir beats, assistindo vídeos e testando programas sem ao menos entender outro idioma. Incentivado pelos pais músicos, o jovem nascido e criado em Austin, em Nova Iguaçu, começou a explorar as batidas musicais através da música eletrônica aos 10 anos de idade. 

Dree é o apelido dado a ele no colégio pela aparência com o personagem Dre Parker, interpretado por Jaden Smith, no filme Karatê Kid, em 2010. Os longos dreadlocks marcaram a época em que ele migrou para o hip hop e viu os amigos começarem a cantar rap. 

Ainda na adolescência, passou a percorrer o país com a Ademafia, um coletivo que surgiu nas ruas do Rio com propósito de conectar as pessoas através do skate. Com o grupo, ajudou a produzir eventos culturais.

O produtor musical, Dree, com amigos no estúdio montado na Biblioteca Parque da Rocinha. Foto: @afotogracia

Há dois anos, em 2019, ele e mais alguns amigos estavam montando um estúdio em Nova Iguaçu quando foram um dos atingidos por uma forte chuva de pedras de gelo que destelhou casas e destruiu para-brisas de carros. “Nosso estúdio era de telha. Perdemos muitas coisas. Nem tínhamos lançado o projeto. Na virada do ano, quando estávamos nos reestruturando, veio a pandemia de novo.”, lembra Marcelo Italo.

Sem renda, o sonho de montar um estúdio para trabalhar com músicos na Baixada Fluminense ficou em segundo plano até ele se mudar para a Rocinha, há 60km de casa, poucos meses antes do início da pandemia de covid-19. “Vir pra cá com certeza é bem melhor. Mais trabalhos e mais clientes. É uma experiência extremamente nova”, diz.

Da BXD para a zona sul do Rio

Na Rocinha, Dree conheceu artistas locais como MC Ari, LC da Roça, MC Jean onde juntaram equipamentos e fizeram parcerias em trabalhos. Assim como o rapper Kayuá canta num verso em que diz: “Vir do nada me faz querer tudo, meu bairro ficou pequeno pros planos, eu tenho fome de mundo”, Marcelo Italo também tem fome de mundo.

Meses depois, ele uniu forças e criou a !Beatz, projeto que visa a inclusão social no ramo de produção musical. No estúdio montado em uma sala na Biblioteca Parque da Rocinha, Dree ministra as oficinas de produção musical e beatmaking, além de também disponibilizar o espaço para os alunos que concluírem as oficinas se iniciarem no universo da música com equipamentos de estúdio profissionais.

Parte dos estudos musicais de Dree foram feitos assistindo vídeos na web. Foto: Alessia Cacciotto

“Eu percebi que mesmo as pessoas levando os notebooks, não tinham como dar continuidade porque não tem um fone de ouvido apropriado para praticar. Pensei que seria melhor ter um estúdio porque mesmo que tenha um notebook ruim para as aulas, pelo menos tem uma caixa de som boa, fone de ouvido e acústica.”, explica.

O conhecimento popular tornou Dree um professor. Nas oficinas, ele dá aula de história do beatmaker na música eletrônica e hip hop. Os alunos também aprendem sobre os tipos de equipamentos e softwares utilizados nas produções.

“O projeto final é fazer um beat de 1 a 2 minutos aplicando todo o conhecimento que recebeu nas oficinas. Depois disso, pode dar continuidade no estúdio”.

As pessoas interessadas em aprender não precisam residir na Rocinha e não há uma faixa etária fixa. Informações sobre novas vagas são divulgadas na página do projeto no instagram.

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